domingo, 23 de setembro de 2012

Semelesquético

Raul na vitrola "Estou sentado em minha cama"...
-Acho que ela vai gostar de receber flores.

Olho com desprezo enquanto Elza suga a linha branca na mesa e em seguida dá uma fungada pavorosa.
- O que você acha de uma rosa vermelha?
Silêncio.
- Uma não. Não se dá uma rosa em dia de estréia. A atriz tem que receber um buquê.  Com ênfase brilhando no buquê.
Elza pega o cigarro, demora dois segundos sensuais pra bater as cinzas e dá um trago.
A sala até que está bem iluminada e a casa está limpa. Não fosse o mijo velho que vem do beco, diria até que a Barra é o lugar ideal pra se viver. E tem gente que me inveja.
-Não sei se vou hoje. Estou meio indisposta.

Ela levanta, arruma os cabelos com as duas mãos, seu corpo contra a luz serena do sol de nove horas revela num lampejo a mulher que já pode ter sido um dia, mais jovem e com menos problemas.
-Estou um pouco cansada... O que acha de eu fazer uma trança?
O que acha de calar a boca?
-Sim, acho que uma trança vai ficar legal, respondo desanimado.
- Ou posso dar uma escova.

Me encolho sobre o violão.
- Vou ligar pro salão.
Ela sai e eu agradeço a Deus por ficar um pouco sozinho na sala de estar, debruçado sobre o violão, com cara de nada, tentando pensar num verso pra começar. Me sinto um pouco culpado por ter desejado que ela saísse dali, então fico com saudade e tenho vontade de chamá-la, mas ela volta logo.
- Acho que não vou mais.
- Eu também não.
- Vá, ela precisa de você.
- Precisa nada, ela é independente.
Ficamos olhando um ao outro.
- Vou fazer o almoço- declara, irredutível.

Desisto. Fazer música é muito chato. Levanto e vou tirar um cochilo até o almoço ficar pronto. Que preguiça.

domingo, 5 de agosto de 2012

Escapulário

Pai?...
Sou eu.
Era mentira o que eu disse do Senhor.

Perdão.
Por favor, proteja minha família:
meu pai, minha mãe e minha irmã.
Obrigado.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012


Tudo é passado
Nada é futuro
O presente é incerto
E o caminho inseguro

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Nós pecadores

Três vezes eu chorei e lhe disse: - papai, que fizeste?
- Mais uma vez lhe bati à cara.
E me fiz de rogado, fingindo-lhe compaixão.